Chihiro Howe fala sobre “Raven Saga” e sua jornada como criadora de webtoons

Autora concedeu entrevista ao CBR

Raven Saga é um webtoon de fantasia criado por Chihiro Howe, lançado sob o selo Originals da plataforma WEBTOON (leia aqui em inglês). Na trama, uma jovem garota chamada Wen precisa se aventurar mundo afora após o misterioso sequestro de sua avó por um menino com corvos.

Ainda que a obra esteja em hiato — e só deve retornar em outra plataforma —, Chihiro Howe concedeu uma entrevista ao CBR onde revelou a capa do primeiro volume impresso de Raven Saga, programado para ser lançado em 6 de janeiro de 2026, e falou sobre o futuro da série e outros projetos.

Leia abaixo a nossa tradução:

Você pode nos contar como descobriu sua paixão por quadrinhos digitais e sobre sua jornada até a [plataforma] WEBTOON?
R: Não por quadrinhos digitais em particular, mas eu tenho uma paixão por mangá. Adoro lê-los e criar os meus próprios. Desenho desde que consigo segurar um lápis. Eu também adoro inventar histórias, desde que descobri o que eram histórias. Cresci no Japão, então os mangás sempre estiveram ao meu redor, então quando comecei a lê-los na escola primária, sabia que criar mangás era o que eu faria quando crescesse. Que trabalho perfeito para mim. Eu poderia desenhar e inventar histórias ao mesmo tempo! Então, quando já tinha idade suficiente para receber uma ajuda de custo*, comecei a comprar livros e a ler mais mangás para aprender a criá-los. Naquela época, a Internet ainda não era muito usada, portanto, se eu precisasse aprender algo, tinha que ir à biblioteca ou comprar livros.
Eu costumava desenhar meus mangás em cadernos com um lápis. Nunca mostrei isso a ninguém, mas quando fiz amizade com outra garota que também adorava mangá, começamos a criar juntas e a falar sobre nos tornarmos artistas profissionais de mangá um dia. Eventualmente, nos tornamos profissionais juntas quando trabalhamos com uma empresa que vendia uma marca popular de marcadores a base de álcool na América do Norte. Nós criamos uma série mensal de personagens que aprendiam a usar os materiais artísticos que vendíamos. A empresa teve de reduzir seu tamanho, então decidi criar minha própria série para me divertir e praticar.
No início, eu não tinha interesse na [plataforma] WEBTOON; só publiquei minha série (criada em um formato tradicional de página em preto e branco) porque era uma plataforma útil que estava ganhando popularidade e eu achava que mais pessoas poderiam acessá-la. Meu objetivo era me tornar um artista em uma editora japonesa. Mas quando recebi a oferta para criar uma série da WEBTOON Originals nos EUA, decidi que deveria aproveitar essa oportunidade, em vez de me ater obstinadamente à mídia tradicional. Desde que eu pudesse desenhar e contar minha história, não precisaria me ater ao formato com o qual estava acostumada. Assim, comecei a trabalhar em Raven Saga e, embora tenha demorado um pouco para me acostumar, descobri que fazer um mangá em formato de webcomic também é algo que adoro fazer.

*No Japão, é comum que alguns jovens recebam uma ajuda de custo para continuarem estudando.

O que inspirou o conceito inicial e a criação de Raven Saga?
R: Na minha infância, eu tinha muitos livros de contos de fadas, principalmente os mais populares como Branca de Neve e A Pequena Sereia, além de alguns japoneses. Também cresci assistindo a filmes da Disney, então eu tinha algumas histórias que eram versões reimaginadas dos contos de fadas com os quais eu estava familiarizada. Foi quando assisti pela primeira vez a The 10th Kingdom que aprendi que era possível misturar várias tramas e personagens para criar uma única história. Se você não conhece essa série, trata-se de uma minissérie de TV dos anos 2000 em que um pai e uma filha de Nova York atravessam um portal de espelho mágico para um mundo com nove reinos, um mundo em que os personagens de contos de fadas são pessoas reais. Eles viajam com um cachorro, que na verdade é um príncipe, um neto da Branca de Neve e um lobisomem, e tentam voltar para casa. Eu me apaixonei por essa série e queria criar uma história como ela.
Corliss foi o primeiro personagem que criei. Ele era um cara que viajava para o mundo dos contos de fadas para coletar histórias e levá-las a uma garota doente no mundo real. Era uma daquelas histórias de uma só vez, com um personagem de conto de fadas diferente a cada vez. Mas quando li The Tough Guide to Fantasyland, de Diana Wynne Jones, que é um “guia” de um típico mundo de fantasia, gostei do conceito de mundo que funciona inteiramente com esses clichês de fantasia. Então, eu abandonei a ideia de envolver o mundo real e criei um mundo pautado em contos de fadas, onde seus conceitos seriam as regras daquele mundo e seus personagens [característicos] fossem pessoas comuns. Corliss deveria ser o viajante solitário, então, em vez de torná-lo o personagem principal, decidi fazer de Wen a protagonista, para que o público pudesse aprender sobre o mundo com ela. Ela também tinha um objetivo mais claro que poderia envolver todos sem soar forçado.

Você pode nos explicar o seu processo criativo ao escrever e desenhar novos episódios?
R: Logo de início, eu faço um grande quadro de papel. Penduro ele na parede para poder consultá-lo à medida que vou escrevendo. De um lado, eu tenho o enredo e, do outro, coloco anotações sobre conceitos, cenários, foreshadows1, etc. Uso post-its para escrever tudo e para que eu possa movê-las facilmente. O quadro é para a temporada inteira. Para os episódios individuais, eu escrevo os pontos-chave da trama em um caderno. Assim que chego em um enredo satisfatório, crio um arquivo do episódio no Clip Studio e começo a escrever todos os diálogos nos balões. Quando eu tenho os balões de fala bem planejados, consigo visualizar o que os personagens estão fazendo e aí faço um esboço dos painéis e dos personagens.
Como o inglês é meu segundo idioma e cometo erros, peço à minha irmã mais nova para revisar os diálogos. Ela era muito jovem quando viemos para os EUA, então cresceu falando principalmente inglês. Ela é tipo uma editora para mim e minha mãe para tudo o que escrevemos em inglês. Ela também é leitora de Raven Saga, por isso envio a ela apenas os balões de fala, para que não estrague tudo na hora dela ler o episódio quando for lançado na plataforma.
Para cumprir os prazos semanais, contratei ajudantes: Um para desenhar os planos de fundo e outro para colorir. O Clip Studio tem um recurso que permite compartilhar com o grupo, então eu aviso a eles que o arquivo está pronto assim que eu marco os painéis que eles devem trabalhar. Enquanto eles trabalham nos desenhos do plano de fundo, eu digito os balões de fala e pinto os desenhos. Meu ajudante dos planos de fundo carrega seus desenhos à medida que eles ficam prontos, então eu os edito depois de terminar a minha parte. Em seguida, aviso meu colorista quando as páginas estão prontas para colorir. Eles colorem o arquivo à medida que o recebem, e eu adiciono efeitos quando eles terminam de colorir.
Quando os efeitos e os retoques finais estiverem prontos, eu preparo o arquivo para carregar na [plataforma] WEBTOON. A preparação inclui:
• salvar cada página como um arquivo .psd após “achatar” as camadas de imagem (mantendo a camada dos balões separada);
• salvar cada página como um arquivo .jpg;
• salvar cada um dos arquivos de página como um arquivo .jpg da WEBTOON (o que significa cortar a imagem longa em tamanhos de 800×1250 px).
Depois que os arquivos são carregados, minha semana de trabalho começa novamente a partir dos pontos-chave da trama. Parece tedioso e interminável, mas é realmente empolgante ver a história que estava apenas em minha cabeça tomar forma.

O final da segunda temporada estreou na WEBTOON no último mês de outubro, quando foi anunciado que a série seria transferida para outra plataforma. Você tem alguma novidade sobre o retorno da série e já tem a terceira temporada de Raven Saga planejada?
R: Além do lançamento de Raven Saga em sua versão impressa, ainda não tenho nenhuma previsão de retorno. Mas agora estou trabalhando na trama da terceira temporada como um todo e, quando estiver satisfeita, começarei a trabalhar nos episódios, além de outros projetos. Espero que eu tenha tempo suficiente antes que os impressos me alcancem.

Raven Saga está recebendo sua primeira adaptação impressa. Você está ansiosa para ter seu trabalho em mãos e o que achou quando viu a capa do Volume 1 pela primeira vez?
R: Sim, estou animada para ver como minhas páginas serão convertidas em um formato de livro. Meus leitores também vêm pedindo uma cópia impressa da série há algum tempo, então estou feliz por finalmente poder dizer a eles que isso está acontecendo. Também fiquei muito animada ao ver a capa. Eles me deixaram criar o conceito do desenho, mas deixaram incrível com os títulos e as cores adicionadas. O logotipo do título mudou um pouco para se destacar em uma capa de livro, mas a sugestão deles foi certeira e gosto ainda mais dele do que do original. Parabéns ao meu amigo que o criou a partir do meu esboço e o fez parecer melhor do que qualquer coisa que eu pudesse projetar.

Você tem algum outro projeto ou ideia de série em andamento, além de Raven Saga?
R: No momento, estou trabalhando em dois. Na verdade, estou trabalhando em um deles há mais de um ano e há alguns meses no outro. Não tenho certeza do quanto posso dizer, mas posso afirmar que um está com uma editora no Japão de outro mangá em formato de webcomic, e tenho outra série em andamento em outro lugar em formato de mangá tradicional.

Há algo que você gostaria de dizer aos seus fãs agora que eles continuam acompanhando a Raven Saga?
R: Gostaria de agradecer a eles por terem me apoiado durante todos esses anos. Passei por momentos difíceis enquanto trabalhava em Raven Saga, e foi graças a eles que consegui chegar até aqui sem desmoronar. Acho que os fãs de Raven Saga são os melhores fãs que um autor poderia ter. Eles são todos muito simpáticos e compreensivos, e eu os amo muito. Agora que Raven Saga está em um longo hiato, fico feliz que os leitores possam ter a cópia física bem na frente deles e continuar lendo as aventuras de Wen. Espero que eles estejam tão animados quanto eu para ter o romance em suas prateleiras!

Fonte: CBR

Glossário:

  1. Foreshadow: Em termos de narrativa, foreshadowing é uma técnica na qual o autor de uma história oferece dicas e indícios do que está por vir, criando expectativa e tensão no público. ↩︎

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